2017-01-25

 

I've got a face, not just my race

The categories of identity politics are exactly the same as those of racism and sexism, just turned upside down on the scale of intentions. What is truly revolutionary is to erase these categories. The rock revolution of Presley, the Beatles and the Stones was all about blending race. The revolutionary blast of the New York Dolls and Glam Rock was about blending gender. Bowie, of course, did it all, which was continued by (post-Young Americans) Disco and all of his 80s children, including Prince, as well as all electronic music that derived (interestingly, Rock became a reactionary white affair, a bit like Jazz before it).

We're all individuals. "I've got a face, not just my race". Too bad academics and most political parties don't seem to accept that revolution and breakout of these categories.The point is that Identity Politics, rather than working to erase the categories of racism/sexism/homophobia, worked to enhance them, albeit with good intentions. The problem is that those linguistic categories have maintained and indeed enhanced the discourse of racism/sexism/homophobia itself---the good intentions of Identity Politics are a bit like how Graham Greene describes the good intentions of Alden Pyle, the Quiet American: "Innocence is like a dumb leper who has lost his bell, wandering the world, meaning no harm". If civil rights had instead fought to erase the categories themselves (which many people like Gore Vidal for years have suggested), focusing on individual- rather than group-freedoms, we would not have created monsters like Trump. That is my opinion, anyway. Perpetuating these categories offers no solutions, simply entrenches distinctions among groups of (diverse) people.

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2017-01-16

 

Soares e os retornados, ou como o Branco-de-Segunda dá em Vaca Profana

Desde a morte de Mário Soares que tenho lido vários artigos sobre a opinião que os chamados "retornados" das ex-colónias mantêm dele. Este é dos casos em que parece haver unanimidade da direita à esquerda: os retornados fazem um juízo incorreto e injusto e Soares foi o bode expiatório de uma situação trágica.

Tendo sido um retornado, refugiado da Guerra Civil de Angola, deixem-me dar um contraponto a esta unanimidade de comentário jornalístico; explicar porque sempre me senti uma vaca profana em Portugal nestes assuntos. Primeiro, digo logo à partida que não considero Mário Soares o grande culpado da descolonização---que foi nada, mesmo nada, exemplar. No entanto, como é obvio pelas cerimónias fúnebres da semana passada, ele é o grande símbolo da democracia Portuguesa que engendrou a descolonização após o 25 de Abril. Como tal, é natural que nos seus ombros se deposite simbolicamente tanto os louvores como as mágoas do regime presente e da sua história recente.

Pelo menos desde o século XIX que os Portugueses nas colónias não foram considerados como cidadãos Portugueses autênticos. A opinião destes "brancos-de-segunda" (eu nasci com essa designação que impedia acesso como igual às instituições militares, sociais, económicas e politicas portuguesas) nunca foi fator importante nas decisões dos senhores da grande quinta imperial que mantinha Portugal; eram apenas os trabalhadores dessa quinta. Muito menos contou a opinião da população considerada indígena africana cuja diversidade a Europa e América do século XIX e XX nunca compreenderam---considerando todos como negros e mestiços, nunca percebendo que há muito maior diversidade racial dentro de África do que fora dela.

O grande problema de toda a discussão que se tem em Portugal sobre a descolonização é que ela ainda assenta nesses preceitos e preconceitos colonialistas e racistas. Por exemplo, à esquerda, Daniel Oliveira diz que a descolonização "foi uma decisão que foi coletiva e largamente consensual: da esmagadora maioria dos portugueses que vivia na Metrópole, dos militares e de todos os políticos de então [...] Não seriam as exigências dos portugueses que viviam em África que poderiam prolongar por mais um dia essa guerra [colonial]." Isto é, a ideia de que a opinião (voto?!) dos "brancos-de-segunda" fosse para aqui chamada é inconcebível. À direita temos Henrique Raposo que nos diz também "meu caro amigo [retornado] tem de perceber que 'nem mais um soldado para África' não era um chavão da esquerda, era o sentimento genuíno da população." Isto é, os "brancos-de-segunda," mais uma vez, não são se quer concebidos como fazendo parte da população Portuguesa. A privação da cidadania desse grupo de cidadãos portugueses é ainda hoje internalizada---quero pensar de forma subconsciente---por comentadores Portugueses que respeito bastante tanto da esquerda com da direita! A elite de opinião política aparentemente unanime nunca percebe porque certos grupos se sentem marginalizados; a sua lógica negocia na linguagem do próprio disenfranchisement (privação de direitos) que nunca é repensada. Depois ficam admirados com a suposta falta de lógica daqueles que não se revêm na "unanimidade" de opinião---como no caso de Mário Soares e os retornados.

Mas se o tratamento euro-centrico foi mau para os "brancos-de-segunda," foi ainda muito pior para aqueles que são vistos como Africanos indígenas genuínos---como se brancos, indianos, chineses nascidos em África não o fossem também, ou, ainda pior, como se os "negros" fossem uma massa racial uniforme! Os Europeus formatados pelo nacionalismo dos séculos XIX e XX nunca perceberam a diversidade do continente e os comentadores políticos deste século usam ainda as categorias de pensamento herdadas dessa época. Daniel Oliveira diz "os povos africanos também tinham de se libertar." Quais povos africanos?  A esquerda afinal aceita estados definidos racialmente? Ou só para o caso especial dos "africanos", essa conceção de uma massa escura uniforme herdada do colonialismo do século XIX? Ainda não internalizaram Nelson Mandela ou Albert Camus? Ou os Die Antwoord, Trevor Noah e Charlize Theron?

O que está aqui em causa é que os pensadores da nossa revolução, incluindo Mário Soares, pensaram e construíram a descolonização com preceitos colonialistas e racistas herdados do pior do colonialismo. Só contou a opinião dos brancos da metrópole. Os "brancos-de-segunda" tiveram que aceitar a opinião daqueles, baixando a bolinha como bons  e dóceis trabalhadores da quinta que sempre foram. Quanto a todos aqueles que foram conceptualizados como africanos ("os escurinhos") que se entendessem entre si. Na realidade este laissez-faire Português do inicio da democracia representou um abandono da responsabilidade que Portugal, como governo das regiões africanas do seu império durante 500 anos, obviamente devia a todos os cidadãos da região independentemente da sua cor. Sim, o pai de Henrique Cardoso e os da sua geração queriam naturalmente o fim da guerra colonial, mas a responsabilidade criada durante 500 anos de regência não se esvanece num ano. Os Portugueses fugiram dessa responsabilidade escondendo-se atrás da mudança de regime. Mas essa é a grande hipocrisia do regime atual simbolizado por Mário Soares---aliás esta hipocrisia foi bem visível no seu funeral nos Jerónimos, esse grande símbolo do Império Português. Pois, a democracia chamou para si a grandeza dos símbolos do Império mas negou a responsabilidade que tinha sobre os povos de todas as raças que viviam sob a sua tutela durante 500 anos. Sim, queremos a Praça do Império de Salazar, mas não aceitamos qualquer responsabilidade do que se passou com os que não eram "brancos da metrópole" na altura da revolução. O que nunca se assume sobre esse abandono é que muito para além das misérias que os "retornados" passaram, a fuga das tropas Portuguesas (que de forma eficaz dominaram militarmente o produtivo território até 1974) levou em Angola a uma guerra civil entre povos africanos distintos (Ovimbundus, Ambundus, Bakongos, e outros) em que morreram mais de 500 mil civis, deixando um país corrupto em que a saúde e escolaridade infantil são do pior do Mundo!

Para que não haja dúvidas, não defendo de todo que Portugal se mantivesse como potencia colonial em Africa. Mas o que teria sido exemplar era ter considerado a opinião e o voto de toda a população no Império Português, mantendo-se a ordem por via militar até esse objetivo ser alcançado. 500 anos de domínio exigiam pelo menos uns 5 anitos de transição em que os direitos de cidadania de todos---brancos-de-segunda e indígenas---fossem considerados. A grande vergonha do regime democrático vindo da revolução Portuguesa foi que não garantiu, nem se quer tentou, a democracia para todos os seus cidadãos para além dos brancos da metrópole. As tropas Portuguesas nunca deveriam ter abandonado os territórios sem eleições locais, após exigir o cessar-fogo e desarmamento das fações militares para se atingir a independência. Isso teria sido exemplar.

O tal sistema unanime de opinião nacional mantém que uma transição mais suave não teria sido possível regionalmente. Por exemplo, Daniel Oliveira diz que algo como isto teria sido possível no inicio dos anos 60, mas não em 1975. Mas esse lugar-comum da opinião nacional nunca refere que em 1975 muitos dos vizinhos de Angola e Moçambique (Namibia, Africa do Sul, Zimbabwe/Rodésia) eram ainda colónias ou governados por minorias brancas---Zimbabwe fica independente em 1980, Namibia em 1990, e o Apartheid só cai em 1994! Isto é, havendo vontade política em Lisboa, teria sido possível um processo de descolonização de 5 ou mais anos com dignidade para todos. Se os revolucionários portugueses tivessem respeitado todos os cidadãos do Império, ao invés de olhar para o umbigo de Lisboa, Portugal poderia ter gerido apoio regional e internacional suficiente para uma descolonização diga desse nome, e não uma fuga irresponsável. Ter mantido a ordem militar um pouco mais, teria evitado uma guerra que matou mais de 500 mil civis em Angola---em comparação, a guerra colonial em todos os territórios matou 8 mil pessoas .

Deixo-vos com Die Antwoord, que só são possíveis devidos a um democrata que deve ser verdadeiramente respeitado por pensar em todos, não só no seu umbigo político e regional: Nelson Mandela. Se Soares (ou o sistema que representa) tivesse conseguido uma verdadeira descolonização democrática, a história vê-lo-ia hoje tão grande como Mandela---como o Pai de uma verdadeira democracia pós-racial no Mundo de expressão portuguesa. Mas não foi isso que aconteceu e a História sabe-o.

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2017-01-05

 

70 Damn songs that can make me break down and cry (and dance and sing and love and think)

This Sunday, January 8th will be David Bowie's 70th birthday. When he passed away last year, two days after his 69th birthday, I wrote that he was "the Rock God who outlived and outperformed Rock is dead". No doubt about that, but just to demonstrate here is a playlist with 70 of his songs. Each of these sufficient to make a career out of a regular musician. How many out there can boast 70 songs like these? And bear in mind that it was very hard to narrow the list to just 70. Not included are many others, such as hits like "Loving the Alien" or "China Girl", classics like "Song for Bob Dylan", "It ain't easy", "Beauty and the Beast", as well as recent masterpieces like "I can't give everything away", "killing a little time" or "Seven", and phenomenal live performances like the cover of Simon and Garfunkel's "America" at the 911 concert, Eddie Floyd's "Knock on Wood," and the covers of the Velvet Underground and the Rolling Stones on Ziggy's last show.

 Bowie was the ultimate artist and as it has been discussed, even his death gave us one of the most striking and high-quality artistic funeral I can think of: the perfect Blackstar album, as well as the haunting Lazurus video with David, as a bluebird passing to another station (with the mime suit from the Station to Station photos). He also worked on the Lazarus Musical, which contains three new amazing tracks that are really to be seen as part of Blackstar. It was one of the highlights of the past year that I was able to see the play in London, for sure.

 I have already ranked all of Bowie's albums, and did a live DJ set honoring him on the dancefloor. The playlist I thought of here contains 70 perfect songs, remixes and performances by anyone's measure. 70 that I like best, arranged in a loose narrative. I did not try to be complete; many other songs could be included from the man up in heaven that can also make be break down and cry. Happy 70th David Bowie. You were taken from us far too early; may you be free like a bluebird. Thank you for showing us art winning over death.


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