2006-02-08

 

Bomba Ilógica

Concordo que ultimamente a bomba tem sido bombástica, mas nem por isso que tenha sido inteligente. Parece-me que ela tem que voltar à aula de lógica se não de estatística, ou então arranjar uma maneira mais inteligente de avançar a sua posição, em ultima análise, racista. O problema é que a bomba confunde silogismo com metáfora...

Vejamos então as bombas ilógicas largadas:

“Convenhamos que a ressurreição de Jesus Cristo não está na ordem do dia (nem há três anos estava) e Maomé nunca esteve tão na berra. Pelos piores motivos: actos de terrorismo justificados pela religião islâmica.”

“Era só o que faltava não podermos criticar e ridicularizar terroristas, que matam pessoas em nome de Alá! Daí a pertinência das caricaturas: a religião islâmica está cada vez mais associada ao terror.”

Se eu consigo retirar a sua lógica, estas bombas parecem querer dizer: todos, ou quase todos, os actos terroristas dos últimos anos foram praticados por muçulmanos, portanto a religião islâmica é uma religião terrorista, o que implica que os muçulmanos são terroristas -- justificando assim a vontade de alguns de ridicularizar os costumes desta religião (nomeadamente o tabu da iconificação do seu profeta).

Longe de mim ser contra a brincadeira sobre os tabus de qualquer religião. Para quem como eu já viajou de Londres a Los Angeles, em pleno Agosto, ao lado (nas cadeiras do meio de um 747) de um Judeu Hasídico em permanentes espasmos de oração, ou teve que assistir a uma cerimónia evangelista de 5 horas cheia de extases carismáticos e orações pelos hereges Darwinianos, mostrar os excessos de qualquer religião é muito salutar. Também acho que o valor da liberdade de expressão implica a aceitação de ataques a elementos sagrados, mesmo os de mau gosto como os filmes do Pasolini ou os cartoons no meio da actual crise.

O que me preocupa nas bombas da bomba é a falácia dos seus argumentos, infelizmente comum em grupos que se vêm superiores ou simplesmente xenófobos:

1. A Madeira Queima-se
2. As Bruxas Queimam-se
logo: As Bruxas são feitas de madeira

mais precisamente:

1. Os terroristas seguem o Islão
2. Os Muçulmanos seguem o Islão
logo: os Muçulmanos são terroristas

É uma lógica com um objectivo muito bem definido: queimar a bruxa (ou o muçulmano, neste caso). É algo como a lógica dos puritanos tão bem ridicularizada pelos Monty Python no Holy Grail:

Villagers: (enter yelling) A witch! A witch! We've found a witch! Burn her! Burn her!
Bedimere: there are ways of telling if she's a witch. What do you do with witches?
Villagers: Burn them!
Bedimere: And what do you burn, apart from witches?
Villagers: Wood?
Bedimere: Right! So why do witches burn?
Villagers: Because they're made of wood?
Bedimere: Right! . Now, what else do you do with wood?
Villagers: Build bridges with it!
Bedimere: But do we not also build bridges from stone; does wood float in water?
Villagers: Yes.
Bedimere: And what else floats in water?
King Arthur: (after more confused suggestions from the villagers) A duck!
Bedimere: Right! So, if she weighs the same as a duck, she'd float in water, and she must be made of wood, so.
Villagers: A witch! Burn her!
(They weigh the woman on a large scale with a duck in the other balancing basket, but inexplicably the scales do not tilt one way or the other. As the villagers drag the woman away, the witch looks at the camera and says with resignation "it was a fair court".)
Bedimere: (to King Arthur) Who are you who are so wise in the ways of science?


Uma forma mais indutiva de ver a falácia, seria olhar para as probabilidades. Há cerca de 1.3 mil milhões de muçulmanos no Mundo. Não sei bem com estimar o numero de muçulmanos capazes de um acto terrorista, mas de certeza que será um numero menor dos que estão dispostos a ir para a rua queimar embaixadas devido a um cartoon. Pelo que tenho lido na imprensa, não me parece que no Mundo inteiro tenha havido mais do que um milhão de pessoas a atacar embaixadas, pois não? Isto é um majorante bastante conservador. Assim, a probabilidade de um muçulmano ir para a rua queimar embaixadas devido a um cartoon pode ser estimada (baseada neste majorante retirado assim do ar) em 1.000.000/1.300.000,000 = 1/1.300. Naturalmente a probabilidade de um muçulmano ser terrorista é muito menor.

Notem que isto é uma probabilidade muito menor do que a de um Português votar no Garcia Pereira (0,44 por cento = 1/227). Se a Bomba não quer que se diga que Portugal está cada vez mais associado ao Maoismo, ou que Portugal justifica o Maoismo, também não deveria deixar de largar as bombas (ilógicas) que larga.

Dois livros que a bomba deveria ler imediatamente são o Innumeracy e o Freakonomics.... Entretanto, fica aqui mais um pouco de Monty Python:

Good evening!

The last scene was interesting from the point of view of a professional logician because it contained a number of logical fallacies -- that is, invalid propositional constructions and syllogistic forms -- of the type so often committed by my wife.

"All wood burns," states Sir Bedevere. "Therefore," he concludes, "all that burns is wood." This is, of course, pure bullshit! Universal affirmatives can only be partially converted. All of Alma Cogan is dead, but only some of the class of dead people are Alma Cogan. Obvious, one would think.

However, my wife does not understand this necessary limitation of the conversion of a proposition. Consequently, she does not understand me. For how can a woman expect to appreciate a professor of logic if the simplest cloth-eared syllogism causes her to flounder?

For example: given the premise, "All fish live underwater" and "All mackerel are fish", my wife will conclude, not that "All mackerel live underwater", but that "If she buys kippers it will not rain" or that "Trout live in trees" or even that "I do not love her any more."

This she calls "using her intuition". I call it "crap" and it gets me very IRRITATED because it is not logical!

"There will be no supper tonight," she will sometimes cry upon my return home.

"Why not?" I will ask.

"Because I have been screwing the milkman all day," she will say, quite oblivious of the howling error she has made.

"But," I will wearily point out, "even given that the activities of screwing the milkman and getting supper are mutually exclusive, now that the screwing is over, surely then, supper may, logically, be got."





Comments:
Espanta-me que haja alguém que leia as patetices da bomba inteligente e se detenha a analisá-las. Não se analisa o nada a não ser por uma causa matemática, o que não é, de todo, o caso da pobre bomba. Agora vamos ao que interessa e o que interessa é o que segue: o islão dos nossos dias está em crise e qualquer assunto é pretexto para tentar reunir os Muçulmanos em torno de um islão sem futuro onde as mulheres são descriminadas e consideradas inferiores ao homem, onde a liberdade de expressão não existe, onde a pobreza grassa e ampara poderosos. Esta é hoje a realidade do islão. Para outros pontos de vista, estes sim: Inteligentes recomendo a consulta deste site: http://www.muslim-refusenik.com/ obrigada.
 
Eu por mim gosto das patetices da bomba. este post que escrevi foi na mesma veia (pensei que a inclusao dos Monty Python mostraria isso de uma forma obvia). No entanto, nao gosto da forma leviana com que se inferioriza um grupo tao grande de pessoas. Agora, permita-me discordar que a Irshad Manji e' inteligente! Aparece muito na televisao aqui nos EUA, e fico sempre muito mal impressionado com a sua arrogancia e muito pior ainda com os seus argumentos. Cheira-me a propaganda mai feita. Ninguem duvida que ha' problemas com sectores da sociedade islamica. Devo dizer-lhe que nas minhas aulas aqui na Universidade do Indiana, tenho varios alunos e alunas islamicos que nao sao nada do que se quer fazer pensar por ai.
 
Lamento desiludi-lo então porque defendo as ideias de Irshad Manji que não considero arrogante nem propagandista de coisa alguma. O que Irshad denuncia e de uma forma eficaz, diga-se, é o estado deplorável a que chegou o Islão em termos daquilo que historicamente representou no mundo (todos temos a agradecer à cultura islâmica um sem número de ideias entre as quais a de liberdade de pensamento e opinião. Isto por mais longínquo que pareça e, de facto, assim é. Ninguém aqui disse, nem Irshad o faz, que os Muçulmanos afinam todos pela bitola histérica fundamentalista. O que se chama a atenção é para o sinal de crise profunda e instalada que a violência fundamentalista simboliza. É este o ponto de vista de Irshad. É este o ponto de vista, sensato, de inúmeros Muçulmanos (cada vez serão mais) mas que, infelizmente, ainda não são os suficientes para encostarem a pobreza, a ignorância e os sistemas repressivos que os fundamentalismos islâmicos insistem em manter para, precisamente, manter os privilégios das famílias poderosas que assim zelam pelos seus interesses. É disto que fala Irshad com aquilo que a si lhe parece arrogância e onde eu vejo apenas assertividade.
Vejo, com pena, que afinal bati à porta errada. Imaginei que o seu post era mais do que uma estratégia de aproximação e gosto pela patetice. É legítimo, claro. Mas a mim não me interessa. Shame on me!
 
Cara Maria Teresa, o meu problema com a Irshad Manji é que o que ela diz, bem como a sua disposição, é obviamente muito mais virado para ouvidos ocidentais. Duvido mesmo muito que ela possa ter qualquer repercução no pensamento Islamista radical que nos preocupa a todos. Por isso penso que em última análise, a mensagem dela é dirigida a ocidentais, para nos fazer sentir bem com a imagem que já temos do Mundo Islâmico -- daí achar que seja tudo um exercício de propaganda, talvez auto-propaganda. A mudança no Mundo Islâmico necessita muito mais de alguém como Martin Luther King Jr. ou Mandela, do que uma "black panther"...

Quanto às patetices, bem, eu penso que os Monty Python e o Woody Allen representam alguma da melhor Filosofia feita no século XX, por isso acho que tem muito valor.
 
Eh, pá, a Maria Teresa é um portento. Chamar-lhe-ia mesmo Bomba Idiota, mas poderia parecer mal.
 
Porque o custo (emocional, fisico, teologico) de ir para a rua em demonstracao, mesmo violenta, e' bastante menor do custo de participar num ataque terrorista, convenhamos!
 

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