2006-04-01
Pastilhas e os Arrependidos de 2002
Cá estou em Lisboa por mais uns dias e, como por synchronicity, mesmo antes de me meter no avião, recebi um e-mail da minha querida zazie. Lembra-me ela das discussões no velho Pastilhas mesmo antes da segunda guerra do Iraque e da minha perspicácia, diz ela, na altura em antever muitos dos actuais problemas. Não foi nem por sorte nem por ser adivinho. Apenas me limitei a pensar com informação bem ao alcance de todos.
Anda agora por aí algum sentimento de meia mea culpa por parte de pessoas que na altura foram no comboio neocon sem pensar muito bem nas lições da história, na evidência já óbvia na altura de falta de capacidade e moralidade dos proponentes desta guerra na casa branca e mesmo da falta de evidência de um programa militar forte no Iraque. Um dos neocons que agora rompe com o seu grupo e com grande alarido é o Francis Fukuyama, assunto que tem sido muito discutido por aí, incluindo por outros ex-pastilhentos na Grande Loja. De facto, Fukuyama com um certo estrondo anuncia o falhanço dos neocons e da política de guerra no Iraque---arrependendo-se como alguém de dentro do grupo dos proponentes.
O que me faz querer cascar no Fukuyama é que a forma do seu arrependimento é demasiado leve sem ele explicar a sua falta de visão histórica e pragmática necessária para ter entrado de livre vontade no comboio desta guerra que arrancou em 2002. Além do mais,o novo arrependimento de Fukuyama não trás propriamente nenhuma ideia nova sobre como os EUA devem daqui para a frente lidar com o Mundo no pós 11 de Setembro. Apenas generalidades vácuas como (ver também uma review de Hitchens, um proponente da guerra ainda não arrependido...):
"What is needed now are new ideas, neither neoconservative nor realist, for how America is to relate to the rest of the world — ideas that retain the neoconservative belief in the universality of human rights, but without its illusions about the efficacy of American power and hegemony to bring these ends about." Extracto de After Neoconservatism, NYTimes, February 19, 2006.
OK, então fez-se uma asneira de proporções enormes ainda não bem avaliadas e depois do leite derramado vamos então procurar "ideias novas". O que seria bom era que os intelectuais conservadores ou liberais, ou o que se quiserem chamar, daqui para a frente se exorcitassem das suas teologias ingénuas de salvação do Mundo e em vez disso adoptassem uma postura céptica, pragmática, racional e porque não dizer, mais científica. Em vez de evangelismo devemos exigir dos políticos e dos pensadores políticos (como Fukuyama) que nunca se justifique uma guerra sem uma grande base de evidência corroborada por factos. Todos sabemos que Bush e companhia têm e sempre tiveram um grande desprezo pelo método científico---a crença é muito mais importante para eles do que os factos e a razão. Mas já de Fukuyama esperei mais em 2002. Agora, vir dizer que precisamos de ideias novas é um pouco com se o cientista Coreano Hwang Woo Suk viesse agora dizer que os resultados científicos não devem ser forjados e têm que ser reproduzidos por grupos diferentes. Muito obrigado, mas de pensadores de certo calibre e reputação exige-se mais.
Já agora, voltando ao Pastilhas em 2002, quando acusei na altura a trupe neocon de ser constituída por gangsters (agora prefiro hustla), caiu o Carmo e a Trindade, ou melhor, o MacGuffin. Agora, 4 anos depois, quem era cego na altura, pode bem ver quem lucrou espantosamente neste período. Como eu também disse na altura, quem paga isto tudo, em dinheiro e vidas, além dos Iraquianos, são os Americanos comuns. Um défice estrondoso para ser pago por nós tax payers nos states, e uma guerra sem fim para saciar os desejos da grande máquina de guerra -- à custa das vidas dos jovens americanos mais pobres (vários alunos da minha Universidade já perderam a vida na mais ingénua e presunçosa das guerras).
E, claro, há sempre alguém que me acusa de ser anti-americano, o que, no meu caso, seria algo como odiar a minha própria família. Felizmente, o meu filho e a minha filha (nascida praticamente durante uma sessão de chat do Pastilhas em 2002!) têm dupla nacionalidade, porque pelo andar das coisas ainda poderão ser recrutados para esta guerra. Por estas razãos é que as meias meas culpas de Fukuyama, e outros que tal, não podem ser aceites assim tão facilmente. O liberalismo evangélico tem repercursões reais na vida e na morte de pessoas, não apenas no mundo virtual do Spin. Já o grande Graham Greene dizia a propósito do envolvimento americano no Vietnam (no seu Quiet American): "Innocence is like a dumb leper, who has lost his bell, wandering the world, meaning no harm". Afinal, para o Fukuyama o problema não era tanto o fim da história, mas a falta de memória dela---como bem lembra o José lá da Grande Loja do Pastilhas também.
Enfim, e o que fazer para conseguir um pouco de Zen por estes dias? Estar em Lisboa é bom---cá estou eu a redescobrir os meus baús de LPs e singles em Vinil (mais sobre isso em breve). Mas melhor ainda é rir com as magníficas capas do César das Neves no triciclo---estou sempre pronto para tirar os evangélicos do sério....
Anda agora por aí algum sentimento de meia mea culpa por parte de pessoas que na altura foram no comboio neocon sem pensar muito bem nas lições da história, na evidência já óbvia na altura de falta de capacidade e moralidade dos proponentes desta guerra na casa branca e mesmo da falta de evidência de um programa militar forte no Iraque. Um dos neocons que agora rompe com o seu grupo e com grande alarido é o Francis Fukuyama, assunto que tem sido muito discutido por aí, incluindo por outros ex-pastilhentos na Grande Loja. De facto, Fukuyama com um certo estrondo anuncia o falhanço dos neocons e da política de guerra no Iraque---arrependendo-se como alguém de dentro do grupo dos proponentes.
O que me faz querer cascar no Fukuyama é que a forma do seu arrependimento é demasiado leve sem ele explicar a sua falta de visão histórica e pragmática necessária para ter entrado de livre vontade no comboio desta guerra que arrancou em 2002. Além do mais,o novo arrependimento de Fukuyama não trás propriamente nenhuma ideia nova sobre como os EUA devem daqui para a frente lidar com o Mundo no pós 11 de Setembro. Apenas generalidades vácuas como (ver também uma review de Hitchens, um proponente da guerra ainda não arrependido...):
"What is needed now are new ideas, neither neoconservative nor realist, for how America is to relate to the rest of the world — ideas that retain the neoconservative belief in the universality of human rights, but without its illusions about the efficacy of American power and hegemony to bring these ends about." Extracto de After Neoconservatism, NYTimes, February 19, 2006.
OK, então fez-se uma asneira de proporções enormes ainda não bem avaliadas e depois do leite derramado vamos então procurar "ideias novas". O que seria bom era que os intelectuais conservadores ou liberais, ou o que se quiserem chamar, daqui para a frente se exorcitassem das suas teologias ingénuas de salvação do Mundo e em vez disso adoptassem uma postura céptica, pragmática, racional e porque não dizer, mais científica. Em vez de evangelismo devemos exigir dos políticos e dos pensadores políticos (como Fukuyama) que nunca se justifique uma guerra sem uma grande base de evidência corroborada por factos. Todos sabemos que Bush e companhia têm e sempre tiveram um grande desprezo pelo método científico---a crença é muito mais importante para eles do que os factos e a razão. Mas já de Fukuyama esperei mais em 2002. Agora, vir dizer que precisamos de ideias novas é um pouco com se o cientista Coreano Hwang Woo Suk viesse agora dizer que os resultados científicos não devem ser forjados e têm que ser reproduzidos por grupos diferentes. Muito obrigado, mas de pensadores de certo calibre e reputação exige-se mais.
Já agora, voltando ao Pastilhas em 2002, quando acusei na altura a trupe neocon de ser constituída por gangsters (agora prefiro hustla), caiu o Carmo e a Trindade, ou melhor, o MacGuffin. Agora, 4 anos depois, quem era cego na altura, pode bem ver quem lucrou espantosamente neste período. Como eu também disse na altura, quem paga isto tudo, em dinheiro e vidas, além dos Iraquianos, são os Americanos comuns. Um défice estrondoso para ser pago por nós tax payers nos states, e uma guerra sem fim para saciar os desejos da grande máquina de guerra -- à custa das vidas dos jovens americanos mais pobres (vários alunos da minha Universidade já perderam a vida na mais ingénua e presunçosa das guerras).
E, claro, há sempre alguém que me acusa de ser anti-americano, o que, no meu caso, seria algo como odiar a minha própria família. Felizmente, o meu filho e a minha filha (nascida praticamente durante uma sessão de chat do Pastilhas em 2002!) têm dupla nacionalidade, porque pelo andar das coisas ainda poderão ser recrutados para esta guerra. Por estas razãos é que as meias meas culpas de Fukuyama, e outros que tal, não podem ser aceites assim tão facilmente. O liberalismo evangélico tem repercursões reais na vida e na morte de pessoas, não apenas no mundo virtual do Spin. Já o grande Graham Greene dizia a propósito do envolvimento americano no Vietnam (no seu Quiet American): "Innocence is like a dumb leper, who has lost his bell, wandering the world, meaning no harm". Afinal, para o Fukuyama o problema não era tanto o fim da história, mas a falta de memória dela---como bem lembra o José lá da Grande Loja do Pastilhas também.
Enfim, e o que fazer para conseguir um pouco de Zen por estes dias? Estar em Lisboa é bom---cá estou eu a redescobrir os meus baús de LPs e singles em Vinil (mais sobre isso em breve). Mas melhor ainda é rir com as magníficas capas do César das Neves no triciclo---estou sempre pronto para tirar os evangélicos do sério....
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