2007-05-15
Libertad
Na minha infancia de retornado num Portugal revolucionário, Espanha representava a terra da liberdade; onde podia beber coca-cola e comer manteiga de amendoim (pasta de cacahuete) sem complexos---coisas com que tinha crescido em Angola mas que não havia em Portugal.
Há três semanas, precisamente no 25 de Abril, estive em Madrid pela primeira vez desde os anos 80---parece mentira tanto tempo sem lá ir. Assim que aterrei em Barajas a primeira música que ouvi no autocarro para o terminal 4 foi do último album de Miguel Bosé, o qual por sinal tocava também por inteiro no meu mp3 player. Esta sincronicidade é sempre um bom sinal para o meu Zenómetro. Realmente, Madrid está um espanto. 60% de todos os novos empregos criados na União Europeia no ano passado foram em Espanha. Mas o avanço não é só económico. Espanha saiu completamente da sua zona de segurança tradicional que era tão conhecida pela falta de visão global. Hoje é realmente mais uma vez uma cultura que não segue, dita. Enquanto em Portugal qualquer novidadezinha, como a restrição ao tabaco em locais públicos, causa grande comoção, em Espanha ditam-se as regras que outros paízes Europeus vão discutir como exemplo.
Para muita vergonha dos meus amigos em Espanha (incluindo o Italiano), desde os anos oitenta, quando passava férias em casa de amigos em Isla Canela, que sou fan de Miguel Bosé. Felizmente, ele é um daqueles cantores que melhora com a idade---mais David Bowie do que Rod Stewart ou Elton John... Desde Laberinto que os seus albums têm sido excelentes. A atestar isso está o seu novo album de duetos/greatest hits "papito"(uma ideia um pouco besuga, é verdade) que inclui algumas surpresas como o dueto com Michael Stipe.
Enfim, em Madrid senti-me livre. Não sei se é de ter chegado aos 40 anos, não sei se é por ver também a Península Ibérica do lado da América, mas o Mundo Ibérico é cada vez mais fascinante. De dentro desta península, Roma foi relançada à escala global na forma da maior exportação Europeia de todos os tempos---a língua e o Cristianismo romano em simbiose. O Português e o Castelhano são muito mais semelhantes do que as várias linguas às quais chamamos Chinês (por exemplo Mandarim e Cantonês). De facto, as linguas ibéricas são diferentes, mas não tão diferentes que à escala planetária não faça sentido falar de um "Iberinês"---muito mais falado globalmente do que o Inglês.
Em Madrid, é inevitável pensar-se no que seria o Mundo se Felipe II (de Espanha) tivesse baseado a sua capital em Lisboa (como foi na altura sugerido), em vez de criar Madrid do quase nada? Cheguei a Madrid acabando de ler o fantástico livro de Geneviève Bouchon sobre Afonso de Albuquerque, e também com as ideias que o meu amigo Tessaleno Devezas com Jorge Nascimento Rodrigues escreveram no novo livro: Portugal: o Pioneiro da Globalização. Mas Albuquerque não servia Portugal como hoje, à luz da ideia de estado-nação, a concebemos. Servia o Rei D. Manuel I e a Cruz. Ponto. Nas suas expedições serviam gentes dessa Europa fora. A expansão não era um plano nacional, mas um plano comercial e imperial da casa Real.
Como Português, Madrid oferece uma liberdade estranha: a sensação de orgulho numa casa Real cujo plano levou ao primeiro Império global e à globalização da nossa língua e cultura, mas, não cedendo à propaganda nacionalista e nefasta dos séculos XIX e XX, a sensação de sentirmo-nos também lá em casa. Afinal, Felipe II de Espanha, I de Portugal, era neto de D. Manuel.
Nada Particular - Miguel Bosé
Vuelo herido y no sé adonde ir
con la rabia cansada de andar
me han pedido que olvide todo
enfin... nada particular
Otra vida y volver a empezar
No te pido una patria fugaz
Dignamente un abrazo
enfin... nada particular
Canta y vuela libre
como canta la paloma
Dame una isla en
el medio del mar
Llámala Libertad
Canta fuerte hermano
Dime que el viento no
no la hundira
Que mi historia no traiga dolor
que mis manos trabajen la paz
que si muero me mates de amor
nada particular
Há três semanas, precisamente no 25 de Abril, estive em Madrid pela primeira vez desde os anos 80---parece mentira tanto tempo sem lá ir. Assim que aterrei em Barajas a primeira música que ouvi no autocarro para o terminal 4 foi do último album de Miguel Bosé, o qual por sinal tocava também por inteiro no meu mp3 player. Esta sincronicidade é sempre um bom sinal para o meu Zenómetro. Realmente, Madrid está um espanto. 60% de todos os novos empregos criados na União Europeia no ano passado foram em Espanha. Mas o avanço não é só económico. Espanha saiu completamente da sua zona de segurança tradicional que era tão conhecida pela falta de visão global. Hoje é realmente mais uma vez uma cultura que não segue, dita. Enquanto em Portugal qualquer novidadezinha, como a restrição ao tabaco em locais públicos, causa grande comoção, em Espanha ditam-se as regras que outros paízes Europeus vão discutir como exemplo.
Para muita vergonha dos meus amigos em Espanha (incluindo o Italiano), desde os anos oitenta, quando passava férias em casa de amigos em Isla Canela, que sou fan de Miguel Bosé. Felizmente, ele é um daqueles cantores que melhora com a idade---mais David Bowie do que Rod Stewart ou Elton John... Desde Laberinto que os seus albums têm sido excelentes. A atestar isso está o seu novo album de duetos/greatest hits "papito"(uma ideia um pouco besuga, é verdade) que inclui algumas surpresas como o dueto com Michael Stipe.
Enfim, em Madrid senti-me livre. Não sei se é de ter chegado aos 40 anos, não sei se é por ver também a Península Ibérica do lado da América, mas o Mundo Ibérico é cada vez mais fascinante. De dentro desta península, Roma foi relançada à escala global na forma da maior exportação Europeia de todos os tempos---a língua e o Cristianismo romano em simbiose. O Português e o Castelhano são muito mais semelhantes do que as várias linguas às quais chamamos Chinês (por exemplo Mandarim e Cantonês). De facto, as linguas ibéricas são diferentes, mas não tão diferentes que à escala planetária não faça sentido falar de um "Iberinês"---muito mais falado globalmente do que o Inglês.
Em Madrid, é inevitável pensar-se no que seria o Mundo se Felipe II (de Espanha) tivesse baseado a sua capital em Lisboa (como foi na altura sugerido), em vez de criar Madrid do quase nada? Cheguei a Madrid acabando de ler o fantástico livro de Geneviève Bouchon sobre Afonso de Albuquerque, e também com as ideias que o meu amigo Tessaleno Devezas com Jorge Nascimento Rodrigues escreveram no novo livro: Portugal: o Pioneiro da Globalização. Mas Albuquerque não servia Portugal como hoje, à luz da ideia de estado-nação, a concebemos. Servia o Rei D. Manuel I e a Cruz. Ponto. Nas suas expedições serviam gentes dessa Europa fora. A expansão não era um plano nacional, mas um plano comercial e imperial da casa Real.
Como Português, Madrid oferece uma liberdade estranha: a sensação de orgulho numa casa Real cujo plano levou ao primeiro Império global e à globalização da nossa língua e cultura, mas, não cedendo à propaganda nacionalista e nefasta dos séculos XIX e XX, a sensação de sentirmo-nos também lá em casa. Afinal, Felipe II de Espanha, I de Portugal, era neto de D. Manuel.
Nada Particular - Miguel Bosé
Vuelo herido y no sé adonde ir
con la rabia cansada de andar
me han pedido que olvide todo
enfin... nada particular
Otra vida y volver a empezar
No te pido una patria fugaz
Dignamente un abrazo
enfin... nada particular
Canta y vuela libre
como canta la paloma
Dame una isla en
el medio del mar
Llámala Libertad
Canta fuerte hermano
Dime que el viento no
no la hundira
Que mi historia no traiga dolor
que mis manos trabajen la paz
que si muero me mates de amor
nada particular
Labels: Espanha, Liberdade, Miguel Bosé, Portugal
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