2014-11-25

 

Small-time Chico Esperto

Well, I am happy they are prosecuting Jose Socrates because it may be a sign of a mature democracy. On the other hand, the key offending item seems to be a 3 million euro apartment he is renting in Paris (for post-graduate education), which is relative peanuts… For a different perspective, this will just show future Portuguese prime-ministers that they have to accept gifts from lobbyists in the ways of more sophisticated democracies: e.g. 750.000$ speaking fees after leaving office, gifts for presidential libraries, Schroeder becoming a Gazprom employee after supporting the Nord Stream pipeline as prime minister, Aznar becoming a member of the board of directors at the News Corp empire, Blair with a net worth of 60 million pounds after leaving the government, accept to become the president of the EU (like tax-haven Juncker and our own Barroso for services well done in support of Bush/Blair’s war). I think Jose Socrates may have just been a naïve, small-time crook in such company.

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2014-02-08

 

Ciência 2.0: do elitismo à decisão coletiva

Saiu hoje um artigo de opinião meu no Expresso. A minha ideia é fazer uma crítica construtiva e de futuro para a Ciência em Portugal. Vai com toda a amizade e respeito para quem dirige ou tem dirigido a Ciência em Portugal. Quero contribuir a minha opinião para o debate actual, porque penso sinceramente que a forma como se financia a Ciência está caduca e pode ser melhorada.

A versão maior com dados empíricos a justificar o que digo no artigo do Expresso está também disponível.

She Blinded me with Science, and failed me in Biology...

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2013-12-09

 

Just the facts ma'am

Tenho pena que muitas vezes a esquerda em Portugal seja tão emocional. É bastante mais semelhante com a direita americana, nesse aspeto. Há uma certa aversão aos factos, e depois, quando constatados com os factos, um cinismo e mesmo desonestidade intelectual.

O caso dos últimos dias tem sido sobre a votação do governo Português na ONU em 1987 sobre a África do Sul e o Apartheid. Nessa altura Cavaco Silva era primeiro-ministro e Mário Soares era presidente da República. Daniel de Oliveira no Expresso lançou chamas das fagulhas de Ana Gomes, dizendo: "[Cavaco Silva] que desalinhou com quase todo o mundo no momento em que Mandela precisava da nossa voz, vir, neste momento, falar da coragem política, da estatura moral e das lições de humanidade de Mandela". Isto depois de definir a situação de 1987 como restrita a uma votação de uma resolução na ONU "que incluía um apelo para a libertação incondicional de Mandela" em que Portugal, Juntamente com Reino Unido e EUA, votou contra. Os outros países Europeus abstiveram-se. Inúmeros outros blogues subescreveram sem olhar aos factos.

Claro que os factos vieram ao de cima, e afinal havia várias moções nesta votação, tendo Portugal votado contra a A(a que Daniel de Oliveira mencionava), mas a favor da G, que também exigia "libertação incondicional de Mandela ". Hoje, Daniel de Oliveira defende-se contra-atacando cinicamente, mas nunca justificando que o que disse inicialmente estava errado: o governo Portugês, ao contrário da implicação do seu primeiro texto, votou favoravelmente a favor do fim imediato do Apartheid e da libertação de Mandela.
De facto, Daniel Oliveira está a ser cínico. O que estava em causa é a afirmação inicial dele, de que Cavaco votou contra a libertação de Mandela. Isso é factualmente errado, não é uma questão de opinião. Também é um facto que as resoluções A e G são essencialmente idênticas com a exceção do recurso à luta armada. Em tudo o resto são idênticas: condenação e exigência de fim do Apartheid, bem como a libertação imediata de Mandela e de todos os presos políticos. Naturalmente as pessoas agora podem dizer que o recurso à luta armada era razoável. Isso é já uma questão de opinião e podemos concordar ou não. Os EUA, R.U. e Portugal acharam que não (penso no caso de Portugal por causa da comunidade Portuguesa lá), muitos outros países acharam que sim, que o ANC tinha direito à luta armada. Os outros países europeus não acharam nada com a sua abstenção, isto é, deram o sim e o não à luta armada. O mesmo fez Mário Soares que não fez na altura nenhuma comunicação pública sobre o assunto.

Infelizmente, quando se entra em discussão com certos blogues de esquerda, quando os factos são postos na mesa, e estamos já fora da opinião, os comentários a esse respeito são omitidos.

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2013-11-17

 

Prolonged Gratification Award: 10,000 Anos Depois Entre Vénus e Marte

Have not posted one of these in a while. I have not tired of this 1970's progressive rock album by José Cid, pretty much all my life---since my brother introduced me to it in 1978. The album is considered among the top five progressive rock albums of 1978 worldwide, and considered Essential: a masterpiece of progressive rock music by specialists in the genre. I have never been a fan of progressive rock, especially since in 1978 Punk and Disco were much more exciting, but this record is a dream for anyone into vintage keyboards and synths and I never tire of it. You can hear the whole thing on youtube, shown below.



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2013-10-21

 

Clepto vs. Skatacracia

Alguém duvida do resultado do jogo cleptocracia angolana vs. skatacracia portuguesa? Quanto tempo até a "Justiça" desistir da investigação aos cleptocratas angolanos? Ainda bem que o primeiro de Dezembro já não é feriado. Começa a ser uma brincadeira de mau gosto celebrar a independência do país... Em vez do pânico óbvio dos nossos governantes (os skatacratas) face às declarações de Eduardo dos Santos, a primeira declaração de resposta deveria ser que nenhuma potência estrangeira pode interferir com o processo de justiça nacional. Naturalmente que Angola tem toda a razão quando reage contra o sistemático abuso do "segredo" de justiça em Portugal, mas exigir o encerramento das investigações em curso é inadmissível. A resposta Portuguesa, custe o que custar, deve ser clara a esse respeito. Há um limite para o que se pode vender.

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2013-07-03

 

Parceiros

Uma coligação náo é só a agenda do primeiro-ministro. Em Portugal não temos muita experiência disto, mas de certeza que a coligação na Inglaterra caíria se Cameron escolhesse um ministro das finanças (chancellor of the exchequer) sem acordo com Clegg. O PSD tem que perceber que quando está em coligação, a agenda do CDS---ou qualquer outro partido em coligação---não desaparace (nomeadamente o seu posicionamento com pensionistas e politítica tributária).

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2013-05-22

 

Esquerda boutique

A propósito da última de Daniel Oliveira com a qual concordo inteiramente, e dos comentários da esquerda boutique dos 5 dias referentes ao garoto e à doutora do video em baixo. Os salários miseráveis são um problema muito grande, mas não tinham nada a ver com o assunto de que o garoto falava. O que a Raquel Varela fez foi um típico bota-abaixo académico, daqueles que levam pessoas como Steve Jobs e Bill Gates a não acabar os estudos universitários. Se um dia as roupas do garoto tiverem muito sucesso, então seria legítimo pessoas perguntarem-lhe sobre as suas responsabilidades sociais; até lá, se calhar era melhor a Raquel Varela & Co. verem bem onde as coisas que compram são feitas e fazer activismo com quem vale a pena fazer.

Já agora, pela apresentação da Prof. Raquel Varela, não me parece que as suas roupas, joias e maquilhagem sejam de alguma loja de comércio justo, já para não falar da probabilidade de ter um iPhone, ou iPad, ou etc... Aliás, o blog da doutora & Co. funciona sobre uma quantidade de maquinaria informática, muita da qual é feita numa rede de comércio nada justo. Se aplicarem o mesmo raciocínio, ela e a sua companhia têm a responsabilidade social de pensar nisso e não usar estes recursos, usando apenas coisas produzidas com salários dignos, sem imigração, etc.

Acho muito bem fazer activismo por comercio justo e salários dignos, simplesmente não tem nada a ver com o empreendedorismo. Quem quer ser empreendedor, tem que competir com a realidade. De uma forma ortogonal a isto, as sociedades ocidentais têm que fazer algo por manter salários dignos. Mas deitar abaixo o garoto deste angulo foi muito baixo—é mesmo o que se chama “falar de cátedra”.



Addendum, 24 de Maio, 2013. Em resposta a António Paço, ver comentários no seu blog.

 Caro António Paço,

 Agora você está mesmo a ser desonesto intelectualmente nos seus argumentos. Tanto eu (em resposta que não publicou) como “edviges” falamos dos materiais que você e a Raquel usam para a vossa produção intelectual. Isto é, o vosso trabalho, de onde derivam os vossos lucros. Os computadores, e todos os materiais que entram nessa produção são tão imputáveis do ponto de vista da consciência social como os do garoto.

 Fora disso, também a argumentação poderá ser legitimamente extendida aos produtos da sua vida pessoal, tipo os sapatos que menciona com escárnio, simplesmente argumentando que se a exploração laboral é tanto do seu interesse (suficiente para atacar um garoto de 16 anos na televisão nacional e neste blog) então deveria dar atenção a esse assunto em todas as suas escolhas—qualquer compra é uma escolha.

 Mas o assunto mais directo é, óbviamente, o paralelo entre a linha de produção do garoto, e a vossa linha de produção. Aparentemente, não é só o comportamento feio de atacar um jovem de 16 anos em público que deixa muito a desejar; a lógica não abunda nesta “loony left”.

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2013-05-06

 

Coreografia Política e o Centralão

JPP em "O MATERIAL TEM SEMPRE RAZÃO" insurge-se com a coreografia política do desacordo Portas-Passos que, argumenta, é pre-arranjada e não tem sentido de responsabilidade. Sou de duas opiniões a este respeito... Por um lado concordo que tudo é uma grande coreografia política---o que não é Kabuki na política? Mas por outro lado acho que em Portugal não estamos muito habituados a governos de coligação. Desacordo entre lideres de partidos envolvidos em coligações governamentais são muito comuns e salutares: ver Inglaterra agora sobre o assunto da integração europeia, ou governos alemães e belgas anteriores, ou Israel e Itália... Sempre gostei de governos de coligação por ainda assim oferecerem algum controlo ao nepotismo partidário. Neste caso, talvez seja ingénuo, mas acho que há realmente desacordo e que Portas é de facto um travão a Gaspar, que não é mau.

O PSD sempre tenta ridicularizar Portas/CDS, mas mesmo assim estamos melhor com esta diversidade partidária, do que unicamente com o Centralão. Aliás, é o centralão (i.e. PSD + PS) que deve ser responsabilizado pelo estado da nação. Em todos os governos recentes, estes dois partidos---e apenas estes dois---foram os partidos maioritários de onde vieram todos os primeiros-ministros e todos os presidentes (desde Eanes) que tivemos. Ora, em ulltíma análise, para o bem e para o mal, são eles que têm que ser responsabilizados pelo estado da nação. Dado que o estado é lastimável (intervenção estrangeira, desemprego, competitividade, etc.) ambos estes partidos deveriam ser castigados pelo eleitorado Português para os obrigar a uma regeneração (como aconteceu na Islândia e na Irlanda). Nomeadamente, algo que os obrigasse a restringir a sua dependência do fluxo aparentemente inesgotável de "talento" que jorra do esgoto que são as "jotas". Mas a conversa continua sempre como se houvesse alternativa ideológica e deontológica no centralão; como se se o PS fosse para o poder agora algo seria muito diferente... Qualquer coisa que provoque uma regeneração a sério deste centralão, cujo impacto em Portugal parece ser bem negativo como mostram os dados, seria muito bem vindo.

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2012-11-03

 

A quinta que se foi e os cretinos que ficaram

Muito se fala do défice; que Portugal não consegue sobreviver em Democracia; que estamos como no final do século XIX, início do século XX; que se precisa de um novo Salazar---até Otelo diz isso!

Os Portugueses, no seu habitual provincianismo, pensam que Portugal é só Lisboa... Esquecem-se que em 1975 se perdeu de vez a grande quinta---será que Otelo se lembra do seu papel nisso? Podemos falar de diferenças partidárias, mas o grande factor económico que alterou tudo foi a perda de um império que incluía um dos maiores produtores petrolíferos do Mundo, em plena crise petrolífera dos anos 70. Aliás, é também bem possível (não tenho dados para argumentar isso cientificamente) que a perda do Brasil tenha sido em última análise responsável pelos défices e crises na segunda metade do século XIX, tão semelhantes à situação que Portugal vive hoje. O que o regime de Salazar fez foi, finalmente, depois de se ter perdido o Brasil, voltar-se para as colónias africanas (muito depois dos britânicos). Só nessa altura é que Portugal começou a explorar a riqueza africana. Até lá, Angola tinha sido apenas o local onde se ia buscar escravos para as Américas---um papel que Portugal raramente reconhece, mas que cidades com nomes como “Angola, Indiana”, nunca me deixam esquecer. O que fez Salazar ter tanto dinheiro foi precisamente essa riqueza por explorar em África. Mas olhando para os dados, Salazar até fez isso muito mal, quando se compara com a riqueza que outras potências coloniais europeias retiraram de África (falando de factos e não da correcção ética dessas acções). É inadmissível e muito triste que durante tanto tempo com acesso a tanta riqueza, Portugal sob Salazar não tenha sido capaz de criar indústria competitiva, tecnologia de ponta, e muito menos uma sociedade educada que pudesse competir no Mundo industrializado. O que se criou foi antes uma sociedade de espertalhões que só se sabe safar à socapa, em grupinhos e sociedades secretas, com cunha, e apoios do estado. Está na cara o que uma sociedade assim sabe produzir: o género de cretinos que hoje em dia infestam e governam o PS e o PSD. Se houvesse uma cultura que apreciasse educação e inteligência (como na Inglaterra e na Alemanha) alguma vez se teria eleito Sócrates e Passos-Coelho/Relvas?

Foi o Brasil, foi Angola, e agora só resta cravar a Europa e depenar os contribuintes para alimentar as máquinas dependentes desses cretinos... Quando esta for ao fundo espero que uma sociedade mais baseada no pensamento crítico, na consciência cívica e menos corrupta possa emergir.




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2010-05-23

 

World without PIGS: an alternative History

Without Greece, there would be no German philosophers. All of Europe would be like the forgotten (Europeans of the) Georgia back-country in Deliverance: where homo-eroticism is enforced by the NRA gun, rather than the naked statues of our national galleries.

Without Italy, there would be no German (Holy Roman) Kaiser. All of Europe would be in a permanent war among unwashed, illiterate troglodytes.

Without Spain, there would be no planetary glory for the Habsburgs. There would be no European financial might, without the silver and gold brought by Spain from the Americas---which the Habsburgs spent in war after war throughout Europe, resulting in debt after debt, and which also ultimately funded the economical and social empowerment of the Dutch, England, and France.

But without Portugal, Germany would probably be a province of Turkey. It is not just that without Portugal there would not be the 500+ year-long European dominance of the planet, now seemingly on its final stretch---allowing Germany to be the World's first or second larger exporter. An often forgotten effect of the Portuguese absolute dominance of the African and Asian oceans for 150 years, was the weakening of the power of the Sultan of Cairo and the Ottoman (see, for instance the Battle of Diu). The Portuguese opened a military front from the East against those two Muslim powers, taking away their main source of revenue: all eastern trade, chief among it, the spice trade. With this unprecedented coup (Portugal, was after all the first planetary-scale, maritime Empire), Europeans were able to contain the rapid Islamic expansion. Without the Portuguese Eastern front and trade control, and the Spanish Gold from the Americas which served Charles V and his (and Isabel of Portugal's) "Kaiser" descendants well, all of Central (if not indeed all of) Europe would be Ottoman.

So, people of Germany and Europe, while the so-called PIGS certainly need to get their act together, think of how indebted you are to us. RESPECT!






Língua - Caetano Veloso

Gosto de sentir a minha língua roçar a língua de Luís de Camões
Gosto de ser e de estar
E quero me dedicar a criar confusões de prosódia
E uma profusão de paródias
Que encurtem dores
E furtem cores como camaleões
Gosto do Pessoa na pessoa
Da rosa no Rosa
E sei que a poesia está para a prosa
Assim como o amor está para a amizade
E quem há de negar que esta lhe é superior?
E deixe os Portugais morrerem à míngua
"Minha pátria é minha língua"
Fala Mangueira! Fala!

Flor do Lácio Sambódromo Lusamérica latim em pó
O que quer
O que pode esta língua?

Vamos atentar para a sintaxe dos paulistas
E o falso inglês relax dos surfistas
Sejamos imperialistas! Cadê? Sejamos imperialistas!
Vamos na velô da dicção choo-choo de Carmem Miranda
E que o Chico Buarque de Holanda nos resgate
E – xeque-mate – explique-nos Luanda
Ouçamos com atenção os deles e os delas da TV Globo
Sejamos o lobo do lobo do homem
Lobo do lobo do lobo do homem
Adoro nomes
Nomes em ã
De coisas como rã e ímã
Ímã ímã ímã ímã ímã ímã ímã ímã
Nomes de nomes
Como Scarlet Moon de Chevalier, Glauco Mattoso e Arrigo Barnabé
e Maria da Fé

Flor do Lácio Sambódromo Lusamérica latim em pó
O que quer
O que pode esta língua?

Se você tem uma idéia incrível é melhor fazer uma canção
Está provado que só é possível filosofar em alemão
Blitz quer dizer corisco
Hollywood quer dizer Azevedo
E o Recôncavo, e o Recôncavo, e o Recôncavo meu medo
A língua é minha pátria
E eu não tenho pátria, tenho mátria
E quero frátria
Poesia concreta, prosa caótica
Ótica futura
Samba-rap, chic-left com banana
(– Será que ele está no Pão de Açúcar?
– Tá craude brô
– Você e tu
– Lhe amo
– Qué queu te faço, nego?
– Bote ligeiro!
– Ma’de brinquinho, Ricardo!? Teu tio vai ficar desesperado!
– Ó Tavinho, põe camisola pra dentro, assim mais pareces um espantalho!
– I like to spend some time in Mozambique
– Arigatô, arigatô!)
Nós canto-falamos como quem inveja negros
Que sofrem horrores no Gueto do Harlem
Livros, discos, vídeos à mancheia
E deixa que digam, que pensem, que falem


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2010-02-16

 

Cara de Pau

Por mais que a promiscuidade entre o público e o privado se torne normal nas democracias capitalistas actuais, não consigo aceitar a forma como em Portugal nem se quer se tentam esconder estas coisas. Nos EUA sabemos que muitas das altas patentes militares giram numa "revolving door" entre o Pentágono e as companhias de materiais bélicos ou de suporte militar que contracta.

Mas ainda assim ninguém nos EUA assume este desplante tão casualmente em entrevistas como em Portugal se faz. A entrevista de Carlos Monjardino ao Expresso de 6 de Fevereiro de 2010 é realmente fantástica. Resumindo: Monjardino, como autoridade responsável por regular o Jogo em Macau no final da gestão Portuguesa do território, esteve envolvido em dar o monopólio de jogo a Stanley Ho numa concessão sem concurso público, e depois acabou em Portugal a dirigir muitos dos interesses económicos do magnata do jogo Macaense. Mas na entrevista tudo isto é apresentado como perfeitamente normal: que a autoridade reguladora acabe na cama com o interesse comercial que é suposto regular. Nem vale a pena entrar na lógica furada que é apresentada como desculpa de não ter havido um concurso público para a concessão do jogo---lógica que a China obviamente não seguiu deixando imediatamente outras empresas de jogo entrar em Macau após a saída de Portugal, com grandes benefícios fiscais para a região.

O que choca não é tanto que estas coisas aconteçam, mas antes a cara de pau desta cultura de total permeabilidade entre interesses comerciais e os seus supostos reguladores governamentais (cuja responsabilidade moral, escusado será dizer, deveria ser defender os interesses dos contribuintes e não os seus próprios). O Miguel Sousa Tavares está mais uma vez correcto quando fala da "promiscuidade absoluta entre o público e o privado". (Aliás um grande artigo do MST sobre muitos outros angulos).



Pet Shop Boys - Shameless (Live)


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2007-05-15

 

Libertad

Na minha infancia de retornado num Portugal revolucionário, Espanha representava a terra da liberdade; onde podia beber coca-cola e comer manteiga de amendoim (pasta de cacahuete) sem complexos---coisas com que tinha crescido em Angola mas que não havia em Portugal.

Há três semanas, precisamente no 25 de Abril, estive em Madrid pela primeira vez desde os anos 80---parece mentira tanto tempo sem lá ir. Assim que aterrei em Barajas a primeira música que ouvi no autocarro para o terminal 4 foi do último album de Miguel Bosé, o qual por sinal tocava também por inteiro no meu mp3 player. Esta sincronicidade é sempre um bom sinal para o meu Zenómetro. Realmente, Madrid está um espanto. 60% de todos os novos empregos criados na União Europeia no ano passado foram em Espanha. Mas o avanço não é só económico. Espanha saiu completamente da sua zona de segurança tradicional que era tão conhecida pela falta de visão global. Hoje é realmente mais uma vez uma cultura que não segue, dita. Enquanto em Portugal qualquer novidadezinha, como a restrição ao tabaco em locais públicos, causa grande comoção, em Espanha ditam-se as regras que outros paízes Europeus vão discutir como exemplo.

Para muita vergonha dos meus amigos em Espanha (incluindo o Italiano), desde os anos oitenta, quando passava férias em casa de amigos em Isla Canela, que sou fan de Miguel Bosé. Felizmente, ele é um daqueles cantores que melhora com a idade---mais David Bowie do que Rod Stewart ou Elton John... Desde Laberinto que os seus albums têm sido excelentes. A atestar isso está o seu novo album de duetos/greatest hits "papito"(uma ideia um pouco besuga, é verdade) que inclui algumas surpresas como o dueto com Michael Stipe.

Enfim, em Madrid senti-me livre. Não sei se é de ter chegado aos 40 anos, não sei se é por ver também a Península Ibérica do lado da América, mas o Mundo Ibérico é cada vez mais fascinante. De dentro desta península, Roma foi relançada à escala global na forma da maior exportação Europeia de todos os tempos---a língua e o Cristianismo romano em simbiose. O Português e o Castelhano são muito mais semelhantes do que as várias linguas às quais chamamos Chinês (por exemplo Mandarim e Cantonês). De facto, as linguas ibéricas são diferentes, mas não tão diferentes que à escala planetária não faça sentido falar de um "Iberinês"---muito mais falado globalmente do que o Inglês.

Em Madrid, é inevitável pensar-se no que seria o Mundo se Felipe II (de Espanha) tivesse baseado a sua capital em Lisboa (como foi na altura sugerido), em vez de criar Madrid do quase nada? Cheguei a Madrid acabando de ler o fantástico livro de Geneviève Bouchon sobre Afonso de Albuquerque, e também com as ideias que o meu amigo Tessaleno Devezas com Jorge Nascimento Rodrigues escreveram no novo livro: Portugal: o Pioneiro da Globalização. Mas Albuquerque não servia Portugal como hoje, à luz da ideia de estado-nação, a concebemos. Servia o Rei D. Manuel I e a Cruz. Ponto. Nas suas expedições serviam gentes dessa Europa fora. A expansão não era um plano nacional, mas um plano comercial e imperial da casa Real.

Como Português, Madrid oferece uma liberdade estranha: a sensação de orgulho numa casa Real cujo plano levou ao primeiro Império global e à globalização da nossa língua e cultura, mas, não cedendo à propaganda nacionalista e nefasta dos séculos XIX e XX, a sensação de sentirmo-nos também lá em casa. Afinal, Felipe II de Espanha, I de Portugal, era neto de D. Manuel.





Nada Particular - Miguel Bosé
Vuelo herido y no sé adonde ir
con la rabia cansada de andar
me han pedido que olvide todo
enfin... nada particular

Otra vida y volver a empezar
No te pido una patria fugaz
Dignamente un abrazo
enfin... nada particular

Canta y vuela libre
como canta la paloma

Dame una isla en
el medio del mar
Llámala Libertad
Canta fuerte hermano
Dime que el viento no
no la hundira

Que mi historia no traiga dolor
que mis manos trabajen la paz
que si muero me mates de amor
nada particular

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