2024-05-31

 

Anatomia da desinformação convencional: o caso dos protestos nas universidades americanas

Preprint original de artigo que saiu no Publico no dia 30 de maio de 2024.

Uma preocupação atual é o putativo perigo das redes sociais para a propagação de desinformação. São frequentes editoriais e artigos de opinião sobre os perigos da desinformação no X, TikTok, Facebook, Instagram, etc. Aliás, este é um receio recorrente sempre que há inovação tecnológica. Nos anos 90 um dos membros da minha comissão de doutoramentoJohn Dockery da Defense Information Systems Agency dos EUA–já me ensinava sobre estratégias de guerra de informação para os chat rooms do inicio da Web. Mas como é sabido nessa área, os casos de desinformação com maior repercussão são propagados pelos meios de comunicação convencionais. Não é preciso sequer ler as ideias de Chomsky sobre a fabricação de consentimento para nos lembramos que jornais de referencia como o New York Times foram a chave da propagação de mentiras sobre armas de destruição maciça que levaram à guerra do Iraque, ou mesmo na guerra atual em Gaza.

É natural os políticos e governos fazerem o enquadramento dos assuntos de forma a canalizar a opinião da população para os seus interesses. Mas quando os meios de comunicação o fazem sem base factual, perdem legitimidade enquanto um quarto poder independente, reduzindo-se a agentes de propaganda do poder oficial. Infelizmente esse enquadramento é mais a norma, do que a exceção. Por exemplo, a análise de texto das reportagens dos meios de comunicação tradicionais sobre o conflito Israelo-árabe ao longo dos anos mostra um enviesamento nítido contra Palestinosalgo já demonstrado também para os principais jornais americanos na atual guerra em Gaza, sabendo-se até que no New York Times há diretivas dos editores para instruir os jornalistas no enquadramento desejado.

A situação no jornalismo português fica ainda pior dada a facilidade de propagar noticias do estrangeiro sem confirmação direta das fontes. A tecnologia atual possibilita a receção, tradução e reprodução rápida de ideias (e até plágio de artigos) pré-fabricadas pelos principais canais de noticias internacionais (AP, Reuters, New York Times, Fox, the Guardian, etc.) Sendo eu emigrante nos EUA há muito tempo, observo também uma certa arrogância tipicamente portuguesa de fingir (ou, pior, mesmo acreditar) que se conhece intimamente a realidade política de outros países especialmente dos EUA lendo esses canais à distância. Dados os recursos limitados do jornalismo convencional nacional, a tentação de passar noticias desses canais sem comprovar a fonte será forte.  Mas este jornalismo, qual retransmissor em rede, é potencialmente mais nocivo na transmissão de desinformação do que as redes sociais, porque parte da autoridade ainda reconhecida aos média convencionais.

Um caso que me tocou pessoalmente foi a cobertura dos protestos nas universidades americanas contra a guerra em Gaza.  Como professor numa das universidades onde tem havido protestos e tratando-se do sistema académico americano que integro há mais de 30 anos, foi deveras frustrante ver a retransmissão de desinformação sobre o assunto em Portugal.  Fui vendo os alunos das nossas universidades retratados como uma elite radical, preocupando-se caprichosamente com uma guerra distante. Uma imagem em nada semelhante aos meus alunos (nos protestos ou não) que admiro tantoa composição das minhas aulas tipicamente tem proporção semelhante de cristãos, judeus e muçulmanos, um pouco menor de hindus, budistas e outros.

Um exemplo (não exclusivo) por Teresa de Sousa no Publico:  “No país mais rico do mundo, nas melhores universidades do mundo, onde os estudantes pagam as mais elevadas propinas do mundo, os jovens que as frequentam gritam (alguns) ‘morte à América.” Apesar de ser natural em qualquer protesto que “alguns” dissessem barbaridades, especialmente porque é comum protestos serem infiltrados por agitadores para os desacreditar e atacar,  esta é comprovadamente uma notícia falsa. Com origem na Fox News (a rede de desinformação convencional de Rupert Murdoch), foi depois amplificada pelo humorista Bill Maher da HBO e pelo Atlantic, e daí foi um passinho até ao jornal Público num artigo com titulo e temática muito semelhante. O problema é que o enquadramento falso dos alunos como elitistas radicais fica assim lançado na discussão do assunto em Portugal com a autoridade de um jornal importante, o que é bem pior do que se fosse feito por um cidadão comum nas redes sociais.

O enquadramento dos protestos baseou-se noutras narrativas falsas, algumas das quais projetadas da realidade portuguesa para a americana. Por exemplo, a noção que os alunos que protestavam em 1968 tinham maior legitimidade porque não queriam ir para a guerra do Vietname esquece vários factos importantes: os alunos universitários em 1968 estavam isentos da recruta, 2/3 dos soldados americanos nessa guerra eram voluntários, nas zonas de combate só 25% dos soldados eram da recruta e só 8% da população de rapazes elegíveis foi recrutada para essa guerra. Em contrapartida, em 2024, 13.4% dos homens americanos já serviu nas forças armadas americanas que nas últimas décadas têm estado praticamente sempre envolvidas em guerras no Médio Oriente. Nas minhas aulas tenho frequentemente veteranos (feridos física e emocionalmente) dessas guerras, na sua maioria começadas sobre premissas falsas fabricadas com ajuda dos média convencionais.

Além do envolvimento direto, ou de amigos e familiares, nessas guerras sem sentido, todos os Americanos estão envolvidos na guerra em Gaza. A Palestina não está distante quando é bombardeada com armas pagas pelo seu país. Israel é o maior recipiente de fundos dos EUA só este ano foram aprovados 14 mil milhões acima dos habituais 4 mil milhões anuais. Portanto, o que acontece em Gaza é da absoluta responsabilidade do contribuinte americanoisto quando em 1970 um jovem americano conseguia pagar as propinas trabalhando poucas horas semanais a salário mínimo, mas hoje precisaria de trabalhar 100 horas por semana para pagar uma universidade privada.   É precisamente por causa do dinheiro investido em seu nome que os alunos protestam (impostos, propinas e património universitário). Em democracia não é capricho exigir que o dinheiro de todos seja investido de acordo com os seus valores, o que explica também porquê os protestos não se focam tanto no Sudão ou na libertação dos reféns do Hamas, uma vez que não é neles que as universidades ou o governo americano investem, é no exército de Israel.  Mas mesmo isso é mais um exemplo de desinformação sobre estes protestos: “Os estudantes americanos não reivindicam a libertação dos reféns que ainda estarão com vida nas mãos do Hamas.” Os protestos da universidade de Columbia (os primeiros) são organizados por uma coligação de 116 grupos com visões distintas. Mas um dos grupos centrais, o primeiro que Columbia suspendeu, é o Jewish Voice for Peace que desde Outubro exige a libertação de todos os reféns. Quase todos os protestos noutras universidades o fizeram tambémincluindo os da minha universidade.

No final das contas, o enquadramento destes protestos usa desinformação para ofuscar o facto que os protestos de alunos americanos têm sempre estado do lado certo da históriaé isso que assusta o poder e a sua geração. Alguém acha hoje que a guerra do Vietname foi uma boa ideia? Mais, os protestos estudantis foram fundamentais para acabar com a segregação racialo Senador Bernie Sanders foi preso na Universidade de Chicago em 1963 nessa luta que todos hoje celebram mas na altura, mesmo Kennedy achava agressiva demais. Foram também os protestos de alunos nos anos 80  que levaram a universidade de Columbia a ser a primeira a desinvestir do regime de apartheid na Africa do Sul, numa cadeia de eventos que culminou com o Congresso norte-americano a impor sanções que acabaram com esse regime, nulificando o veto de Reagan que, tal como Thatcher, dizia ainda em 1985 que Nelson Mandela era um terrorista.

Tal como nesses momentos de protesto, é provável que estejamos realmente numa encruzilhada da História em que são os alunos a mostrar o caminho da decência. Nesta circunstância, mais do que nunca, o jornalismo convencional não deveria servir apenas a reação do poder assustado com os desejos da geração mais bem informada de semprecom acesso à inteligência coletiva possibilitada pela Internet.  Se os média convencionais não quiserem desaparecer perdendo para sempre a nova geração, têm de funcionar como um quarto poder legítimo, e não como mecanismo de propagação da propaganda do poder vigenteisso podem fazer a Internet e a inteligência artificial facilmente sem eles.


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2022-11-16

 

The universal part is powerful

Raphaël Glucksmann's "Lettre à la génération qui va tout changer" is a very exciting read. It made me feel very connected to younger generations and the possibility of change. It also highlights how much of a losing proposition identity politics is, with its ultimate reduction of the Republic to individuals and their identities. Effective action --- and indeed the pleasure of being in a Republic, a city --- lies in the universal, not in the individual aspects of citizens. Unity is Powerful.

"'To restore the republic everywhere' is to restore every citizen to the command post in each of us. We are more than men and women, more than rich and poor, more than believers or atheists, more than Christians or Muslims, more than black or white, more than heterosexual or homosexual, more than individual persons: we are citizens. There is a universal part of us that fades away when we don't cultivate it, when we don't regularly make the effort to get out of ourselves".




The Style Council - Walls Come Tumbling Down (Live Aid)

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2022-03-03

 

Systems Anarchist?

Jewels one finds unpacking book boxes after a move: a lovely collection edited Joe Peacott "Against Separatism." I could be an anarchist, a "systems anarchist," but I know that to be a contradiction in terms, with its implicit organizing principles of collective behavior and evolution---essential for resilience in the face of great challenges like pandemics and climate change. But it is hard to ignore that nationalism, and all associated identitary "isms", pit us all against one another as class representatives. At the same time, pure or radical anarchic individualism easily destroys liberal society and the robust shelter it brings to individual freedom. 

Liberal society, as an ideal, is anarchist in the nonradical sense that it aims to maximize individual freedom without special privilege or rules given to any class/group, but it also has to be organized around society and its collective survival. So it cannot escape the establishment of at least one class defining membership in the society: that of citizen. The challenge is how global and humane can such a class become for a given society not to disintegrate? I don't know the answer, obviously. I also know that liberal society has been very far from its ideal in curbing privilege---though still much better than any other alternative (illiberal) society we have seen. But the last century has shown that all nationalism and indeed identity politics only take liberal society further away from that nonradical anarchist ideal. 

Anyway, some interesting quotes from the little book:

"The primary problem with most leftist positions is that they promote group interests over individual interests and further isolate people from each other." From Anarchists and the left, Joe Peacott

 "Nationalism, like feminism, is based on the primacy of groups over individuals. Nationalists believe that 'nations' oppress other 'nations.' Anarchists, on the other hand, contend that some people oppress other people". From Anarchists and the left, Joe Peacott

"The ideal political categories of marxism prevent us from seeing the concrete individuals in our lives; instead we see the classes of which each individual is but a representative. As a consequence, we often treat the people we first encounter in everyday life, not as themselves as morally autonomous individuals with their own particular histories but as abstract class tokens with one collective history." From The Politics of Identity and Difference: Gynocentrist vs. Polyandrogynist Visions by Peter Cariani.  

"Perhaps the worst danger of nationalist strategies is that they do not eradicate the oppressive distinction on which the oppression is built. In the process of organizing along nationalist lines, it is necessary to create a strong group identity ("class consciousness"), and a strong sense of the Other." From The Politics of Identity and Difference: Gynocentrist vs. Polyandrogynist Visions by Peter Cariani.



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2022-02-04

 

Princípios

A esquerda portuguesa tende a fazer um julgamento moral da direita, aparentemente por motivos fundamentais de democracia, mas já para si própria reserva argumentos pragmáticos (quem nos apoia, obter resultados, etc). É legítimo levantar o assunto "Stasi" como metáfora dos esqueletos ditatoriais da esquerda, porque é importante que a esquerda democrática se pergunte porque razão é aceitável haver na assembleia da república um vice-presidente do PCP, mas não um do Chega. Sim, Rui tavares explicou a sua posição pessoal sobre Lothar Bisky em particular, mas isso não chega porque não houve um tratamento completo sobre a sua posição em relação ao resto da esquerda com quem se coliga. Existe alguma linha vermelha? Digo isto com o à vontade de quem não podia estar mais longe do Chega e escolheu Livre nestas eleições (para manter o meu voto, vai ter que contribuir para maior clarificação democrática à esquerda). Mas devido ao Chega, a direita está a ser forçada a explicitar as suas linhas vermelhas democráticas e sociais fundamentais. Já está mais do que na hora da esquerda fazer o mesmo, em vez da habitual negação que tem uma vertente autoritária. Desconfio sempre quando a resposta é uma pseudomoralidade chocada, como que virgens vestais sob ataque, em vez do necessário trabalho moral sobre democracia. Se a esquerda realmente se opõe a um Vice-Presidente da Assembleia da Republica baseada num princípio fundamental contra autoritarismo, também tem que aplicar tal critério a si própria. É essa questão fundamental que está por trás da crítica do Sérgio Sousa Pinto (a origem do "meme Stasi"). Mas pelo menos o PCP (e o BE em grande medida) ainda não fez esse trabalho democrático. Aliás continua sem regenerar os seus líderes mesmo após derrota, já para não falar da sua defesa explícita de regimes ditatoriais---tantas vezes de forma racista dizendo, por exemplo, que o comunismo que defende é "Europeu" e que esses regimes têm outros "contextos sem tradição democrática."

Riton Presents Gucci Soundsystem Feat. Jarvis Cocker - Let’s Stick Around

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2020-06-04

 

#VegasBibleFascist

Though it makes total sense, I never thought that America's fascism would show its ugly head with a #VegasBibleFascist aesthetic. At least the Nazis had Leni Riefenstahl. "Fascism scholar @RuthBenGhiat joins @MehdiRHasan to discuss Trump’s authoritarian response to the protests sweeping the country.

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2020-03-31

 

É necessário mais investimento em ciência de complexidade e resiliência para lidar com pandemias

Versão maior de artigo que saiu no jornal Público no dia 31 de março de 2020.

Se há uma consequência positiva da Pandemia de COVID-19 que nos assola, é o novo apreço na sociedade em geral pela matemática e ciência. De repente toda a gente prefere ler sobre curvas exponencias em epidemiologia a ver programas na TV sobre astrologia−aliás, como mostrou ironicamente Ricardo Araújo Pereira, esta pandemia ridiculariza todas as “previsões” de horóscopos e tarots do início do ano e deveria envergonhar os canais de media que propagam essas verdadeiras “fake news”.

No entanto, apesar do novo respeito, os cientistas devem agora também frisar que os governos ocidentais, incluindo o Português, não deram atenção suficiente à ciência, previsão e gestão da sociedade moderna face a epidemias. O investimento na investigação científica em áreas interdisciplinares necessárias para lidar com epidemias−incluindo a necessária translação de conhecimento científico para as estruturas de governação e execução de saúde pública−tem sido muito aquém do necessário em Portugal, na Europa e nos EUA. Lembro-me de uma reunião há cerca de 15 anos com o então ministro da ciência (e físico) Mariano Gago por iniciativa do então Presidente da Fundação para a Ciencia e Tecnologia (o incansável) João Sentieiro. Tentei convencê-lo de que no século XXI seria necessário muito maior investimento e treino em modelação epidemiológica, uma vez que os patógenos (como o SARS-CoV-2) agora viajam rapidamente em redes biológicas, ecológicas, sociais, económicas e tecnológicas que interagem entre si de forma muito complexa. O ministro não gostou nada quando lhe disse que estar preparada para esta nova realidade era muito mais importante para a sociedade (saúde, economia e defesa) do que aceleradores de partículas no CERN à procura de bosões. Colegas cientistas na Europa e EUA têm histórias semelhantes sobre as suas conversas com dirigentes de política científica nos seus países.

Não quero com isto dizer que não se deva estudar física das partículas; aliás, todo o investimento em Ciência é um multiplicador económico e de conhecimento. A questão é que o investimento científico não é ilimitado e o estudo das redes que ligam rapidamente o mais ínfimo vírus à mais potente economia não tem recebido a atenção necessária no Mundo ocidental (não tanta como campos que foram importantes no século XX por razões de domínio militar, mas não são tão relevantes hoje). Os governantes Europeus e Americanos ainda não perceberam a complexidade das redes que nos afetam. Que a sua resposta a esta crise foi desastrosa não é uma opinião, mas um fato mensurável em vidas humanas em comparação com a reposta de países asiáticos mais perto da origem do problema. Apesar do tempo de avanço sobre Wuhan, a resposta Europeia e Americana foi muito pior que a da Coreia do Sul, Japão, Singapura, Taiwan, Macau e Hong Kong−até da resposta Chinesa após os seus erros iniciais bem graves. Por exemplo, apesar de alguns países como a Itália terem bloqueado voos diretos com a China, as pessoas viajam em rede, e como tal, voos indiretos por outras capitais fizeram-se sem qualquer avaliação dos viajantes vindos de locais contaminados−demonstrando que os governos ainda não percebem, ou não querem perceber, a complexidade das suas redes de transporte.




Os cidadãos ocidentais merecem saber porquê que as suas nações não responderam da melhor maneira possível e devem exigir um sistema de resposta a pandemias bem mais eficiente e que dê maior resiliência à nossa sociedade. Está mais do que na hora de reorganizar as estruturas de financiamento científico, passando de objetivos militares e nacionalistas obsoletos para prioridades de saúde, económicas e ecológicas transnacionais de nos afetam muito mais diretamente. Hoje o nosso inimigo mais mortal não é uma fantasmagórica nação ou sistema político, mas um vírus que entrou nas nossas redes de defesa imunitária pelas redes alimentares, de produção e de transportes que partilhamos com o resto do planeta mas que não são geridas de forma científica.

É de notar uma perda de capacidade de liderança da parte dos EUA nesta matéria. O presidente Obama tomou a iniciativa de liderar a resposta global à epidemia de Ébola em 2014, enviando recursos americanos substanciais para a fonte da crise e criando estruturas governamentais na Casa Branca para responder a crises futuras que a administração Trump encerrou. Mas o que dizer dos governantes europeus que sabendo do recuo internacional de Trump−bem como da sua terrível incompetência−não tiveram a capacidade de liderar uma resposta apropriada dado o vácuo de liderança Americana? Os países Asiáticos, aprendendo com a experiência do H1N1 em 2009, não esperaram pelos EUA para se defenderem. Portugal, apesar de ter sido razoavelmente rápido com as medidas de distanciamento social, só começou a medir a temperatura de passageiros chegando ao aeroporto de Lisboa no dia 20 de Março, quase dois meses depois da OMS declarar uma urgência global de saúde pública−a medição de temperatura não é por si só muito eficiente, mas viajei pelo aeroporto de Lisboa sete vezes de final de janeiro até meados de Março e nunca ninguém me perguntou onde e com quem estive.

Um corolário desta pandemia é que o primeiro Mundo é agora nos países da Ásia que conseguiram defender os seus cidadãos melhor. O que esperamos é que esta pandemia não seja um colapso, mas antes um grito de alerta para o Mundo Ocidental−e a Europa em particular−acordar para a realidade de interligação planetária. Quando sairmos da crise mais imediata, é essencial criar um CERN, uma ESA ou NASA, para estudar e prever não só a parte biológica das pandemias, mas também medidas que aumentem a capacidade de resposta rápida e, em última análise, a resiliência da nossa sociedade complexa a impactos de natureza vária.

Como se vê muito bem com esta pandemia, a nossa vida social e saúde pública depende imenso das interações em rede que se propagam desde o mais ínfimo patógeno até às redes de transporte, saúde, economia, ecologia e governação. A pandemia demonstra também que a saúde publica depende, e muito, de investimento em Ciencia, da capacidade de sistemas de saúde, bem como da observação e regulação de movimentos em momentos chave−tudo fatores necessários que o Mundo ocidental não tem financiado suficientemente por causa de ideologias que otimizam os custos e lucros na estabilidade, mas nos deixam completamente impreparados para crises. Tudo está interligado e a nossa sobrevivência depende de sabermos responder a uma realidade complexa em que se passa da estabilidade ao caos em poucas semanas. Estou farto de ver políticos, advogados e economistas a debater esta pandemia nos media sem ter cientistas à mesa. A realidade mostra que não integrar o conhecimento científico mais diretamente na decisão política, gestão e regulação das redes bio-tecno-socias planetárias é um desastre que se paga muito caro em vidas humanas e desolação económica.

OK, em baixo uma playlist feita durante a quarentena para aliviar a frustação :)

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2020-03-22

 

Decandence

The sycophant GOP response to Trump is certainly pathetic and dangerous. But so-called moderates in the Democratic party and media also ultimately continue to enable our current late-Soviet-empire politburo of old, out of step, incompetent leadership. The sheep-like subservience of the entire Democratic establishment to nominating Biden, who is an obviously flawed candidate and mediocre leader, is not any less sycophantic and something history will also look back at as utterly decadent---just cross-check what people like Amy Klobuchar, Pete Buttigieg, Kamala Harris, Andrew Yang and others said during campaign and after pressed to endorse Biden. Meanwhile, in the midst of the COVID-19 pandemic, which is a threat at least as great in scale as WWII, where are Biden and Pelosi? It is so obvious that Sanders is absolutely right about what ails America, especially in this public health crisis. It is also Sanders who is more quickly responding to pandemic in all the ways a leader should respond.

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2019-03-21

 

Natural Art Individuals

I first got a hold of Camille Paglia's Sexual Personae in Binghamton (Camille Paglia went there as undergraduate and I went there for my PhD much later). That book influenced my thinking a lot, I even used it as inspiration for the ability of users to select different "personae" in the recommender systems I developed in the 90s and 00s. Years later I realized how much in sync I was with her naturalized approach to identity and the importance of art in expressing and playing physically with identity. Or maybe was just her disco-punk attitude and interest in Bowie and Patti Smith and Madonna alike that resonated with me. The recent article by Mark Bauerlein is one of the best I have read recently explaining her relevance today---when issues of identity can quickly become more like religion and nothing like true academic scholarship. A True Force of Nature to be taken seriously:

'The truth Paglia identified long ago is that in all human beings there is an “emotional turmoil that is going on above and below politics, outside the scheme of social life.” Great art touches it, and so does religion. Individuals who respond to art and religion understand that when politics and social life presume to replace them as right expressions of that turmoil, they falsify it instead…'



Something Crazy Religious:



Something with "titanic power from [the] deep wells of emotion [...], grounded in the body. [Bowie] never stupidly based gender in language alone—like all those nerdy post-structuralist nudniks who infest academe. Who the hell needed Foucault for gender studies when we already had a genius like Bowie?"

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2018-12-20

 

Optimism is Majority Rule

Thinking about Bret Stephen's comparison of Trump and Warren, it is obvious that there are so many differences between Trump's and Warren's views of a rigged system based on fact---and no, the left was never unified against truth, from Popper to Paglia. Despite Stephen's rhetorical sleight of hand about Warren's own success in a rigged system, fact-based statistics show the US lags far behind Europe in class mobility, mortality rates for the poor, access to higher-education, imprisonment of minorities and the poor, etc, etc. But the most important aspect in all of this is that Warren's view is coherent with the views of a majority of Americans (see the polls), whereas the views of Trump and the GOP are only supported by a minority. Nothing screams more loudly about how rigged the US political system is than the fact that every branch of power in past couple of years (until January) has been controlled by a party that represents a minority of Americans. In France this would lead to revolution, but here conservatives like Mr. Stephens want to obfuscate this fundamental undemocratic truth with calls of more "optimism." We will be optimist when majority rule is again the state of the nation. Until then, we must do all we can to unrig the system.

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2017-12-10

 

Sacrificial Clown at the Altar of Hipocrisy

The recent resignation of Al Fanken brought to mind Malcom X's discussion of American democracy as hypocrisy. Thank you Maureen Dowd for shedding light on this most recent Democratic party great hypocrisy. As if Clinton Inc. did not know that Weinstein was as rapist (even Jane Fonda knew!), as if they believed the women who accused Bill Clinton.

The accusations against Al Franken pale in comparison to those against Weinstein and Clinton---if they are even real. Yet, all the Democratic party senators who are now so outraged with Franken, including Gillibrand, were holding hands with Bill Clinton in the 2016 convention and in their own campaign events---as if the women who accused him never existed---and taking money from Weinstein. All of them, plus Gloria Steinem, Madeleine Albright and Hillary Clinton, should now apologize to Clinton's accusers for not believing their recollections---those women are still there waiting for that recognition, and there is, after all "a special place in hell for women who don't help each other".

Democratic party leaders should apologize that the most well known feminist in the land, as well as the first woman nominated for the presidency by the Democratic party, fat-, age- and slut-shamed rather than believed those women, as now they so sanctimoniously shout we should do in the Franken case. They should also explain better how they did not know about Weinstein. This has nothing to do with excusing X because Y is worse, but about simple fairness and decency, rather than hypocrisy and shamelessness of mythical proportions.

My guess is that Franken is the sacrificial clown so that the Democratic party doesn't deal with the bigger offenders and its collective guilt on the topic. Franken's actions should certainly be investigated and taken where they should. But the idea that the party is doing this because of a watershed moment against sexual assault is a joke. I will believe that when all those apologies start coming out. As Maureen Dowd says, "that's no way to be the party that protects women."


"They attack the victim, and then the criminal who attacked the victim accuses the victim of attacking him. This is American justice. This is American democracy and those of you who are familiar with it know that in America democracy is hypocrisy. Now, if I’m wrong, put me in jail; but if you can’t prove that democracy is not hypocrisy, then don’t put your hands on me." Malcolm X.

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2017-08-19

 

We don't need this fascist groove thing.

You don't heal a society by tearing down statues. When did iconoclasm heal anything? A more robust solution is to incorporate new values into the existing ones, side by side. Every country with sufficiently long history faces these issues. In the US case, it is not just the civil war and slavery that needs healing. From a Native American perspective, every statue and flag celebrating the USA --- yes, including Washington and Jefferson --- also celebrates their collective loss and annihilation. Are we really going to tear down every offensive historical artifact?

As for the President's role. What a surprise Trump is a racist! More than half of voting white people in the U.S. voted for him despite him saying things like "Mexico only sends us rapists, let's build a wall, etc." To this day, his approval is at 37%, I would imagine most of them from his white base. This means that roughly one in every two white Americans who sees my name probably thinks I'm an inferior human---which is still much better odds than the proportion of northern Europeans who think southern, Hispanic Europeans like me are inferior (hey, the Dutch president of the eurogroup got away with saying southern countries spent their money on women and wine.) Just providing some bicontinental context.

Of course the US would do much better embracing a Mandela when it comes to healing. Obama tried, but reactionary forces, to hold on to power, embraced and assembled the extreme forces with dog whistles; now the wild dogs run the show. Still, we cannot succumb to fight intolerance with more iconoclasm. Let free speech rule; all speech. If all speech is allowed to coexist, the most extreme forces will be more and more in the fringe without an excuse or resentment. But let's never tolerate violence or intimidation.

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2017-07-14

 

He's the groove

This Pope is Disco! Somebody should write a "disco opera" for him. Seriously now, so happy that the modern Vatican is delineating so very clearly that Catholics in the US have been contaminated by heretical (as far as new testament is concerned) evangelical incoherence: theocratic bureaucracies hell-bent on bringing the apocalypse via unholy alliances between big capital and weapon makers are as far from modern Catholicism as can be, and indeed not far from Islamism.

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2017-05-31

 

Suppe a la clown: or what if Trump is right?

Trump is a cumbersome buffoon. No doubt about that. But while his approach certainly is counterproductive and not that relevant to the US, he is right about Germany's role on global (mostly EU) macroeconomics, defense and I would say even climate---even though Merkel and most Germans try to address some of these concerns. On macroeconomics, we all know that Germany is living off a depreciated euro for its export surpluses. If it still had the mark, it would be much higher given Germany's spectacular trade surpluses. So, especially for the Eurozone, but also with all its trading partners, it should increase consumption, raise salaries, etc. Of course it has no rational, self-interest reason to do that, but since Europeans do not have the power to do it, a little pressure from the US could be a good thing---if it did not come from a mean, dictator-loving, unprepared president following behind on a golf cart. On defense, it is clearly under spending (1.2 of GDP). There are historical reasons for that, but it is time for Germany to live up to the NATO commitments it signed on to, especially given the trade surpluses it has. Finally, on climate. While Germany signs all the right treaties, when it comes to enforcing them, it is not so good. I am convinced that German automakers are involved in the greatest environmental con job ever. The fallacy of diesel engines (on which German automakers have put so much stock and are still defended by Merkel) should make all Europeans furious. We have known for so long that Diesel engines, despite best technical efforts, pollute more than gasoline engines---especially when not well tuned, which is what happens 75% of the time. But with the Orwellian labeling of Diesel engines with green Eco labels, and with criminal lies, German automakers are responsible for filling European cities with Diesel engines. No wonder so many cities, from Madrid to Paris, are struggling with air quality. Yes, other nations' automakers have followed in the diesel fallacy too, but European countries have long created incentives for people to buy those cars (probably with pressure from German automakers), so of course all automakers will try to respond to the market demand. In summary, it is not only the loud mouths we have to worry about. The quiet "experts" and "serious people" in Germany have been pushing failed economic orthodoxy and dirty technology, while not stepping up to their commitments on economics (no penalty for Germany's current account and budget surpluses against Euro rules), security (under-paying what they agreed to in NATO), and climate (the corporate lying on Diesel engines most probably was or should have been known at the highest levels).

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2017-02-22

 

The disrupter of Dutch doublethink

Great article by Sebastiaan Faber in the Nation about Geert Wilders. Fascinating to see how the Dutch reconcile their closeted racist skeletons with their outwards projected self-image of tolerance. This could be true in almost any European country, but it is particularly intense in the Netherlands where shame of past and sense of liberal superiority coexist in an unsustainable doublethink that Wilders exposes and shatters. "Ironically, the very thing that makes Wilders an international embarrassment to the Dutch—his challenge to their cherished self-image as the epitome of progressive tolerance—is one of his strongest trump cards".

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2016-11-12

 

Causes

OK, my liberal friends may hate this but I have to get it out. For the last 8 years the Democratic National Committee and the liberal media have been pacifying the left with solidarity for bathroom choices, gay marriage, micro-aggression, Tim Hunt, and such issues, while doing all the wrong things for a truly liberal cause like excusing torture and surveillance (the only people prosecuted by the Obama administration in those cases were the whistle blowers), trade, banks, etc. So, to an extent, I understand when the Rust belt people took the FUKITAL pill. I don't mean to say that the causes above are not important, of course they are. But they do not address harder problems (many more) people are facing, from those losing jobs in the Rust Belt to those being bombed without any oversight in the middle east. Anhoni, the phenomenal transgender singer, said it best last May: "Did you all get the memo? This election cycle in the USA is not about ecocide, the dying oceans and the extermination of biodiversity, grotesque income disparity, corporate sovereignty and US war crimes that have played a big part in the destabilization and radicalization of the Middle East. No, it is about transgendered bathroom access!"

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2015-10-12

 

Union of European States for Expansionary Austerity

Não deixa de ser interessante a negociação de um governo compromisso feito de componentes muito diversos. É muito comum noutros países europeus...O grande problema é que dentro da zona Euro os governos nacionais não podem ter grande desvio padrão ideológico... Aí estará a parede com que o PS se vai esbarrar muito em breve. As pessoas vão talvez se aperceber em breve que já não há bem democracia nacional, no sentido de haver um leque de alternativas ideológicas possíveis. Eu diria mesmo que estar dentro do Euro é um pouco como estar num regime de partido único tipo a velha USSR: só existe uma alternativa de política económica e financeira, com uma variação mínima aceitável. Estamos na União dos Estados Europeus da Austeridade Expansionária (UESEA*, em Inglês, Union of European States for Expansionary Austerity). Isto é, mesmo as teorias económicas mais baseadas na evidência empírica estão de fora. Keynes not allowed to run for government in the UESEA; taboo, he might as well be Trotsky. Krugman might say, welcome to confidence fairy land. UESEA has always been at war with UESSD....



*Uma versão anterior do post usou um acrónimo mais correcto, mas mais complicado: UESEFC, for Union of European States for Expansionary Fiscal Austerity.

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